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Ex-aluno da primeira turma de Engenharia de Teleinformática desenvolve tecnologia avançada no Vale do Silício

Data da publicação: 9 de setembro de 2015 Categoria: Notícias

Em palestra a estudantes realizada no Centro de Tecnologia em agosto, Gilson Gonçalves de Lima, engenheiro de software da companhia Intel, contou sua trajetória desde os bancos de graduação da UFC, onde se formou na primeira Engenharia de Teleinformática, até ser contratado no núcleo de desenvolvimento computacional da  Intel,empresa localizada em um dos maiores polos tecnológicos do mundo, o Vale do Silício (Califórnia), ali  estão instaladas grandes companhias como Apple, Microsoft, Google e Facebook.

Gilson Gonçalves de Lima, engenheiro de software da companhia Intel, formado na primeira turma de Engenharia de Teleinformática da Universidade Federal do CearáEstudante inquieto, curioso e sempre ocupado com cursos de idiomas, aulas e pesquisa em laboratórios, Gilson viu surgir o curso de Engenharia de Teleinformática da UFC, hoje ramificado em novas graduações: Engenharia de Computação e Engenharia de Telecomunicações. Apesar da infraestrutura ainda incipiente na graduação à época, pode participar dos estudos em processamento de imagens do Laboratório de Visão, Imagens e Sinais (LABVIS), onde iniciou na pesquisa científica. Concluída a graduação na UFC, Gilson conseguiu bolsa de estudos para cursar doutorado na Brown University, uma das oito maiores instituições de ensino dos Estados Unidos, a prestigiosa Ivy League, ao mesmo tempo em também concluiu mestrado em Engenharia Elétrica.

“O valor de participar desse tipo de seminário é compartilhar informação que abre as portas para vocês. Às vezes você pensa que algo é tão difícil que desiste antes de tentar, e às vezes não é, basta você saber o que fazer e quando, na ordem certa que vai conseguir”, estimula.

Para conseguir o estágio na Intel, Gilson participou dos grupos de inovação de onde a companhia capta seus futuros engenheiros. O tablet montado por sua equipe foi a prova de que tinha as habilidades que a empresa procura em um aprendiz. Após um ano e meio de experiência, seu trabalho hoje é a produção em larga escala de um dispositivo de reconhecimento facial, o Real Sense, utilizado no sistema operacional de computadores, jogos eletrônicos e robôs.

Após a fase de desenvolvimento e testes, a equipe do engenheiro, especializado em visão computacional, precisa expandir a produção “Para dizer que o trabalho está terminado, é preciso produzir em massa com a mesma qualidade”, afirma.

A inteligência dos principais especialistas em tecnologia do mundo é o que garante a fertilidade do Vale do Silício, onde Gilson mora há seis anos. Engenheiros de várias nacionalidades, a maioria deles mestres e doutores em universidades de renome, dedicam-se a startups, novas empresas focadas em criar aplicativos e softwares que serão utilizados em todo o mundo. “No Vale do Silício, para todo lado que eu olho, só vejo gente de fora. É uma Torre de Babel”, diz ele.

As grandes companhias, como a que Gilson trabalha, tem hierarquia mais rígida e burocrática. Ali, a pressão e disputa entre grupos internos gera o que ele considera um “ambiente tóxico”, onde percebe bullying e nepotismo.Os salário iniciais são geralmente baixos, mas podem chegar a 160 mil dólares por ano. O lado positivo é a estabilidade e o trabalho desenvolvido porequipes de alto nível de conhecimento e experiência. Além disso, há pouca mobilidade de engenheiros de uma empresa para outra. “Existe um acordo entre essas empresas para não contratar ex-funcionários da outra. Você poderia ser bom como fosse, você não seria contratado de jeito nenhum. A razão desse tipo de acordo é porque vira uma corrida maluca de salário”, revela.

Hoje com trinta anos, o engenheiro mantém o mesmo projeto que pensava durante a graduação. “Ainda quero abrir minha empresa. Estou conhecendo o sistema para poder me aventurar nessa área. O Vale do Silício é um lugar interessante para começar, por causa do ecossistema de negócios que eles têm e das oportunidades de investimento de capital. Se você mostrar que tem potencial, vai ter um suporte financeiro, o que é difícil ter em outro lugar no mundo. Não conheço outro lugar onde vai haver tanta gente disposta a te ajudar a fazer a tua empresa crescer”, diz.

Entrevista

Gilson Gonçalves de Lima, engenheiro de software da companhia Intel, formado na primeira turma de Engenharia de Teleinformática da Universidade Federal do Ceará

 Como era o seu perfil enquanto estudante de graduação?

Eu sempre fui muito esforçado e nunca gostava de fazer o mínimo, fazia sempre mais do que me pediam. Eu comecei a estagiar em laboratórios de pesquisa no final do meu primeiro ano, foi muito cedo, mas ajudou bastante, porque até em época de greve eu tinha o que fazer, produzir. Sempre muito ocupado, estava fazendo curso de línguas, no laboratório, estava em projetos, gostava de me envolver em tudo. Eu estava na primeira turma de teleinformática, era um ambiente difícil, a infraestrutura não estava pronta, era difícil pra todo mundo,mas, eu era daqueles caras que sempre estava falando durante a aula, dando opinião ou perguntando.

 Você foi bolsista de iniciação científica como foi essa experiência, o primeiro contato com pesquisa e desenvolvimento?

A minha grande vantagem, na verdade, foi a experiência em laboratório, que foi muito valiosa. Um exemplo foi minha expertise em MATLAB, uma linguagem de simulação, que a gente trabalhava sempre no Laboratório de Pesquisa em Visão, Imagens e Sinais, e eu uso em todo canto, no trabalho ou no doutorado. Eu tive, durante quase toda a minha graduação, aquele tempo extra de experiência nesse ambiente. A área de processamento de imagens foi um bom início para mim, não exatamente que eu acabei fazendo, que é visão computacional, algo mais sofisticado, mas foi o passo inicial, foi muito importante estar na iniciação científica para a minha carreira.

Ter lidado som com projetos, rotina de trabalho, equipes em laboratório tem alguma semelhança com o trabalho na prática da INTEL?

É muito diferente, porque é uma empresa global, então nada disso eu tive a chance de ser preparado aqui. Lidar com gente de vários países, de várias regiões, de fuso horário diferente. Isso não dava pra conciliar aqui de jeito nenhum. A grande desvantagem do aluno daqui, comparado com o de lá, era esse acesso da experiência no ambiente corporativo, e na universidade de lá também não dava para simular, pois é algo bem específico. É difícil de treinar alguém para isso, exceto quando você manda o aluno para a empresa por si próprio.

Comparando os currículos da Universidade de Brown, que áreas precisam ser incluídas aqui para que se aproximem do perfil de um engenheiro para trabalhar no Vale?

Tem uma ênfase em computação gráfica muito relevante, A visão computacional também, com certeza, eu descobri, desde quando eu fui para a Brown, que existem poucos profissionais, professores universitários brasileiros que tem expertise nessa área, que é muito recente. Visão computacional, computação gráfica, programação avançada, como o C++. Existia um foco muito grande na UFC em tentar trabalhar com ferramentas gratuitas, esse era o caminho para seguir, mas, em uma empresa de grande porte, trabalha-se com  ferramentas muito complexas e sofisticadas e não é só ler o manual que no mesmo dia você sabe. Nenhuma outra empresa, nem aqui em Fortaleza, no Vale do Silício, trabalha com programação se não for no (software) Video Studio, da Microsoft. Ninguém vai fazer simulação em ferramenta gratuita.

Pra trabalhar com tecnologia de ponta hoje o estudante necessariamente precisa imigrar ou é possível o surgimento desse ecossistema de negócios aqui?

É possível imaginar o sistema aqui, mas é preciso a colaboração de várias partes para dar certo, por isso, é chamado de ecossistema. Então, o governo precisa facilitar as regras para se abrir uma empresa, pois até onde eu tinha lido, tempos atrás, demorava 6 meses para se abrir uma empresa aqui no Brasil e, nos Estados Unidos, você consegue abrir no mesmo dia, imagine a diferença absurda que em burocracia.

O grupo de investimento para essas pequenas empresas surgiram. A gente trabalha muito no Brasil confiando no governo para os grandes passos serem dados. Ninguém tenta, na verdade, facilitar o espaço para a iniciativa privada criar empresa e empregos. Eu acho que isso agrega valor ao país facilitar o ambiente para abrir empresa, criar esses sistemas onde tem gente com dinheiro disposta a investir e gente com ideias novas para tentar empreender e não ter medo de falhar. Você conhece só o sucesso, há centenas e centenas de fracassos, mas os casos que dão certo geram emprego beneficiam todo mundo ao redor. Eu quero abrir meu próprio negócio nesse ambiente, antes de decidir o que eu quero fazer depois. E o futuro? Eu vou adaptando com os resultados das minhas tentativas.

 

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